Nas quatro estações...


Cabelão. Sempre tive cabelão. Sempre disse com toda veemência que jamais pintaria meu cabelão, jamais passaria química no meu cabelão. Cabelo na cintura, grande, bem grande!! Quase todo lindão, umas beiradinhas meio crespas emoldurando os cantos de minha testa, mas afinal, não almejo (mesmo) a perfeição!


Daí um belo dia: puff!! E se eu fizesse luzes? São tão lindas! Ah, e se eu fizesse uma escova inteligente (de onde saiu esse nome, meu Deus!?) Fiz. Luzes e escova. Luzes e escova. Escova. Luzes. Escova e luzes. Luzes e escova... diversas, várias, muitas!
Não satisfeita, pintei. Fiquei loira Xuxa num dia, morena índia no outro. Afinal, o que eu realmente queria com o meu cabelão??
Ele foi se cansando, como Sansão, foi perdendo a sua força... foi se tornando opaco. Quebradiço. Sem brilho. Fosco. Meio vivo: morto.
Relutei, mas não havia mais saída, da tesoura eu não escaparia. Cortei dois palmos. Meu cabelão tornou-se um cabelo médio, alcançando meus ombros. Não adiantou. Sua morte estava evidente em cada centímetro.

Cortei mais. Morrendo no pezinho da orelha. Ficou armadinho. E continuou mortinho.

Não tive saída: tive que cortar de verdade. Curto, curtinho. Como jamais imaginei fazer. Mas vê-lo triste daquele jeito me exigia tal radicalização. Foi uma multiplicidade de sensações: ao mesmo tempo eu senti orgulho de mim, ansiedade pra ter meu cabelão de volta e minha auto-confiança ligeiramente abalada (só mulheres de cabelão me entendem nessa parte).

Já se passaram uns meses. Ele já está alcançando meus ombros de novo. Tá crescendo vigoroso, naturalmente brilhoso, fazendo suas ondas fartas que dispensam qualquer artifício e já começaram a arrancar ricos elogios por aí...

Pois é como meu cabelão que virou cabelinho que tenho me sentido ultimamente. Precisei ser cortada, tosada, porque eu só sabia mostrar opacidade, tristeza, mortezinha insossa das coisas gostosas da vida... tentei me esconder em artifícios, químicas, cheiros, tons e cores que nunca foram meus. Mas agora, alguns meses depois, é evidente para mim que nunca precisei dessas coisas, que eu sempre abriguei vida e força dentro de mim e que eu precisava morrer para que, do meu restinho, vingasse toda a beleza que residia em mim.

Nada como uma tesoura bem intencionada! Agora sei da beleza que meu cabelão tinha! Agora sei como cuidar dele e mais que nunca o quero de volta. 


Haja paciência. Mas até que ele está crescendo rápido...

http://www.youtube.com/watch?v=xGzvcZZVsqQ

Comentários

Allan Ψ disse…
Parabens pelo texto e por dar essa chance ao seu cabelão, afinal, a chance nao foi para seu cabelão e sim para voce mesma. Lendo esse texto me abriu um caminho em um artigo que estou escrevendo , podem deixar que nao voun copiar e colar nao, rsrsrss, voltarei mais vezes para ver seus escritos.
Ludmila Clio disse…
Poxa, muito obrigada! Beba no copinho, encha a cara, rsrs... fique à vontade!

:o)
Anônimo disse…
ESTE TEXTO ME LEMBRA...
POR FORA, BELA VIOLA!
POR DENTRO , PÃO BOLORENTO.
MAS QUE BOLOR QUE NADA.
É SÓ LENVANTAR, OLHAR EM VOLTA...SACODE A POEIRA, E DAR VOLTA POR CIMA.
VC ESTÁ ACIMA DISSO.
GRTANDEEEEEEE BEIJOOOO