No Pain, No Gain!


Pode haver vida no que chamamos de amor?

Todo encontro é uma despedida de nós mesmos. Do que fomos até aquele momento, do que jamais seremos outra vez. E toda despedida é um reencontro com aquilo que deixamos um dia, acreditando estar acertando em cheio a felicidade. Nada disso. A vida é uma sucessão de erros, nada mais que isso. Quem diz viver em paz sabe que falta o tormento sacolejante da insegurança para manter-se acordado, vigilante. A paz que permite um sono tranquilo pode não ser paz, mas descaso, pouco caso, rendição. É preciso sentir na espinha o ardor imperceptível de que a energia não é o bastante para manter a vida acesa, flamejante e incandescente, e lutar por mais energia, e mais e mais.

Toda dor dói. 

Dói sentir a topada na quina do móvel com o dedo do pé. Dói o movimento dos cristais formados no interior dos rins. Dói uma sucessão de contrações para parir. Dói nascer. Dói crescer. Dói viver. Dói sentir essa dor que não tem rosto, que eu não sei o nome, a cor dos olhos e da alma. Dói esse mosaico de saudades inconscientes da segurança do útero de onde saí. Dói essa calmaria nauseante de quem sofre sem nem saber por quê. Dói a acusação da minha falta de identidade, mesmo tendo matrícula, sequência, certidão, numeral, registro geral, mesmo eu sabendo exatamente quem eu sou. Dói ter um coração onde é comum ter um código de barras. E é a dor que nos traz a certeza de ainda viver!

Viver dói. 
Passar pela vida anestesia.

Pode haver amor no que chamamos de vida?

Pois seja vida, seja amor, sem dor não vale a pena. Anestesia.

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