Do Lado de Dentro


Silêncio não se faz quando respiro
Minha cabeça tem pensamentos estrondosos
Minha existência é um grito de vontade
Eu entrei na tua corrente sanguínea
Cheguei sem previsão e explodi diante dos teus olhos
Para calar-me
terás que me beber, gota a gota
Devorar com os dentes cada sonho de fogo 
que te impede a calma antes de dormir
Se queres arrancar-me dos pensamentos
fatia a própria pele, como quem enlouquece para se livrar de uma tatuagem
Se não queres me tocar, corta-te as mãos
Se não queres sentir, 
arranca o coração do peito, ainda quente e pulsando
Pois em vida não te livrarás
Estou do lado de dentro, imiscuída no teu sangue
Escorro pela tua face temperada pelo teu suor
Se me corta, cresço de novo
Se me afoga, ressurjo como uma sereia de cauda reluzente
Se me mata, renasço feito Fênix, em teus pensamentos mais insanos
Se me prende, 
desapareço e volto borboleteante em tua pele quente, 
com toques de leveza e incêndio
Quantas tentativas já fizeste de te livrar?
Quantos desvarios e febres tens só de imaginar?

Quantos caminhos já tomaste, em aceleração, para esquecer?
Pois beba teu sangue todo
Mate-se quantas vezes sentir-se arder
Lança-me no fogo e veja o que acontece
Grite até à exaustão
Tente exorcismo, suicídio, autocombustão
Hás de se acalmar quando enfim perceber
Que estou por dentro, sorrindo em cada célula da tua alma
Olhando-te profundamente
Esperando pacientemente que percebas
que isso, que parece um tormento,
é tão somente
a porta aberta para a tua paz.

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