Ao adentrar um coração pela primeira vez,
não se contente apenas em ir a todos os seus cômodos
para conferir se há alguma presença ali, escondida
Mas peça licença ao dono
e faça uma pequena prospecção em suas paredes
Muitas presenças não são palpáveis,
mas estão sob a tinta,
onde foram escritos seus nomes,
suas histórias, seus rabiscos e sonhos
Existem corações aparentemente vazios
e dispostos a te acolher,
mas estão carregados de ecos, cheiros,
desejos e sons escondidos sob a cor nova, sob o tapete,
atrás dos quadros, na beiradinha do espelho,
numa telha quebrada, numa toalha florida
A princípio o espaço parece livre para ti,
mas ainda está ocupado por memórias que não morreram,
e você não pode mudar isso, posto que muito deseje
Contudo, caso ignore essa força que não se vê,
em pouco tempo em ti habitará o olhar de cobrança
Teus olhos, outrora brilhantes, confiantes e sonhadores
hão de ser tristes e cansados,
solitários à sombra de quem não aconchega,
insistentes em lutar com quem ali não mais reside,
mas presente está e ainda respira.
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