Alegria Triste


Já se tornou um hábito. Todo sábado vou à feira daqui do meu bairro. Já tenho as barracas preferidas, já tenho aquele prestígio de cliente que ganha pedaço de fruta cortada na hora pra experimentar. Também já ganhei um maço de alecrim. Hoje ganhei seis batatas, daquelas pequenininhas.

Todo sábado, bem na esquina da feira, fica um mendigo que cumprimenta todos que passam. E ele sempre pede moeda. E ele sempre agradece e abençoa a gente, mesmo quando a gente diz que não tem nada para lhe dar. Entretanto, hoje foi diferente. Hoje ele não me pediu nada.

Ele estava lá, sentado no chão, como todo sábado. Quando fui me aproximando dele, ele levantou os olhos pra mim, alisou sua barriga e disse: "sassinhora, não aguento mais comer!". Eu sorri e respondi: "que bom, hein?!". Daí ele comentou com quem vinha atrás de mim na calçada: "eu ganhei um pastel imenso, moça, graças a Deus!" Dava pra sentir o sorriso dele misturado nessas palavras.

Eu, a poucos passos dele, senti uma alegria triste. E se alguém me perguntasse o que é uma alegria triste, eu responderia que uma alegria triste é quando ela, a alegria, se esquece por alguns minutos de toda a sua miséria e celebra a felicidade de devorar um pastel imenso, ganhado de um estranho, até que toda pobreza da realidade volte com a fome.

Comentários

Regiane disse…
Nossa, imagino essa felicidade, pois quando era mais nova eu e minha mãe participava dos presentes do noel do correios e me sentia tão feliz por estar fazendo outras pessoas felizes e triste por saber que não tem a mesma condição que eu, um detalhe pra nós pode ser tão pouco e pra quem nada tem é muito e assim que quero dar mais valor aos detalhes.
Beijos!

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Ludmila Clio disse…
É isso mesmo, Regiane, você disse tudo. Nos detalhes residem grandes motivos de felicidade! Continue espalhando o bem! Um beijão!!