Não Assim


Tenho uma flor no meio do jardim
Quando vejo a vida e seus preços,
ao sentir-me tão cobrada, a todo instante,
fico menor do que ela
Nada é dado, o amor custa caro,
a felicidade é volátil e a beleza, efêmera
Quando tenho memórias,
a minha alma é açoitada pela culpa
A vida me cobra o seu custo,
mas minha temporalidade é outra
As pessoas me cobram sorrisos e atitudes,
mas meu mundo é outro, eu nem estou aqui
O sistema me cobra sanidade,
mas eu nem sou daqui!
Às vezes penso em quão felizes
são aqueles que não têm de si a razão cobrada,
talvez porque se amoldam e seguem o fluxo
A rotina me cobra postura
e minha moeda esse mundo não aceita
Cobradores de sorrisos me batem à porta
e vão me arrancando pétala por pétala
O tempo me cobra tempo
Minha flor murcha
Minha flor sou eu
Sem arrancar-me a raiz,
despedaço-me a mim mesma,
odiando a natureza desse jardim triste
Talvez ela seja bela e eu é quem não saiba amar
Talvez eu não saiba mesmo viver
ou, talvez, eu simplesmente não queira.

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