Pavor de Janela


Ela é linda. É meu amor.
Já lhe ofereci tudo,
Mas ela, educada, apenas agradece.
Às vezes eu a vejo em pé, próxima à janela,
Com a cabeça encostada no vidro
E com olhar absorto, misterioso
Finjo não perceber sua saudade, suas vontades vãs
Quase morro
Com aquele resto de sorriso em sua face.
Ela gosta de janelas
Janela da sala, da cozinha, do carro, de trem....
Sempre ela, os pensamentos, o resto de sorriso e o olhar de janela...
E quando ela nota que eu a observo
Logo fica séria
E pergunta se eu quero alguma coisa
Desapontado, sempre respondo que não
Mas eu sei que sim
(e ela também sabe)
Nisso tornou-se a nossa vida:
Ela bebendo minhas sobras de esperança
E eu a flagrando feliz nas janelas
Em paisagens onde não posso tocá-la,
Onde eu sequer existo.



(Publicado na Revista Cachoeiro Cult, edição de Fevereiro de 2009)