Quando
o carnaval passar
pode ser que eu volte a viver.
Vivo dias sem fim,
Inchados pelo ócio
Acordo só para ver o dia acontecer
E ele se arrasta,
Feito um bloco triste de carnaval;
Ele se arrasta tão lentamente,
Que me enjoa.
Nesse momento, agora, nesse
instante,
O sol já brilha alto no céu
Os barulhos da urbanidade estão aumentando:
A cidade está de pé,
Rumando para a produção
Que parte de sua força
E eu sou inútil nessa rede
Então
Fico pendurada na janela do tédio
Vendo mais um dia desfilando diante de mim,
Escapando por entre minhas mãos
E minha juventude vai evaporando nas horas
Mas
Quando o carnaval passar
Pode ser que eu volte a viver.
No sistema
Ressurreições e condenações,
Homicídios e suicídios,
Nascimentos e mentiras,
Tudo tem hora marcada para acontecer.
Não sei se resisto a tamanha desumanidade
Tenho febre e questiono ser assim.
Ah, querida,
Mas fique certa de uma coisa:
O carnaval vai passar,
Sim, ele vai
Mas as máscaras vão continuar
E, mesmo depois do carnaval
Sua alma de poeta não se aquietará
Porque suas fantasias
São outras.