Hoje
o tempo fechou
vai chover vermelho no meu coração
essa agonia não está cabendo em mim
Como pesa a sensibilidade...
Queria ser fútil, viver na média
Mediocridade anônima! Que maravilha!
Queria não compreender entrelinhas
E nem precisar delas.
Queria não suportar Pessoa, Neruda e Vinicius
Queria passar despercebida
Entretanto
Sempre me convidam para a roda,
Para a mesa, para a rua
Mas minha alma estranha
E sempre prefere a caneta e o papel,
A cama e o travesseiro,
A música e o silêncio.
Minha normalidade é atípica,
Soa antipático, esquisito.
Tenho o coração na pele
E a minha balança é outra.
Por que a minha capacidade de amar
Me adoece a alma?
Por que não sou comum?
Por que não sou mais um?
Sinto a alma cansada:
Alargou-se em demasia
E já não me resta a chance de ser menos
Estou condenada a ser grande
Vou sofrer por ter a alma inchada
Inchada de fé no amor
Inchada de passionalidade.
Sou uma autêntica fraude:
Demonstro autoconfiança
Olho nos olhos e faço constranger
Tenho o tom da serenidade desejada
Mas
Como todo cartão-postal,
Eu tenho um verso
Um verso que não se revela,
Que é meu e de poucos.
Apenas as almas poéticas
Compreendem os tormentos
Que eu escondo em meu verso.
Nessa tarde
Pedi a Deus que me levasse daqui.
Não, eu não tenho coragem de ir sozinha
No entanto
Eu não correria dela, caso ela viesse
E a minha agonia está virando raiva,
Tenho raiva por não ser como os outros.
Eu queria ser simplória,
Sem mistério algum
Ter sonhos frívolos
Ser limitada e, por isso,
Chamar o amor de ilusão.
Queria ter amores
Com a duração das flores
Queria ter desejos sociais
Ter conduta padrão
E nem saber do algo mais da vida.
Mas não, sou assim,
De alma inflamada,
De coração quente,
De espírito apaixonado.
E talvez, ingênua
Por acreditar nas mentiras
Que os poetas juraram ter vivido...
...só me falta ser verde
e ter a cabeça grande.
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Essa é a capa do livro - Essa poesia o intitulou - E seu nome vem dessa música http://www.youtube.com/watch?v=H59Pl6o7iU8 :) |