Uma poesia acende outra,
como sinapses formando uma cadeia sem fim de inspiração.
Sim, a poesia é imortal. Ela
reside até na feiura do cotidiano.
As entrelinhas são
múltiplas e inesgotáveis. Estão, a todo momento, germinando, brotando,
florescendo à nossa volta. Quem há de percebê-las, regá-las, colhê-las, replantá-las?
A poesia é como uma flor
exuberante à beira do caminho, ofuscada pelas placas, cercas, prédios, carros e
portões. É uma mensagem subliminar, um código, uma mensagem implícita da beleza
tão contraditoriamente óbvia, pública, exposta.
A poesia nasce de uma
palavra ou da beleza decifrada, ela brilha para o poeta em qualquer circunstância,
até mesmo numa má notícia de jornal, numa conversa à toa na fila do banco. É a
língua dentro da língua.
Poetas se repetem com
palavras diferentes, com ordens opostas e desordenadas, movidos pelos mesmos
tormentos e sentimentos universais, quem há de saber?
No fundo toda poesia que
há no mundo é uma só. Os poetas são as frações de uma inspiração indivisível e
suas poesias são partículas da poesia maior, que é perfeita, irretocável,
infinita, inacabável, incitada por uma flor exuberante, esperando ser notada, à
beira do caminho.