As pessoas realmente não sabem o
que se passam com as outras. E nem querem saber.
Quantas vezes sorrimos, em um
cumprimento, não por felicidade, mas por mera educação. Os olhos denunciam, mas
quem olha nos olhos hoje em dia? Quem se importa?
Hoje a felicidade é uma
obrigação. Tristeza é frescura. Então simbora ser “feliz” com todo mundo. Vamos
postar nas redes sociais nossa vida perfeita e saltitante! Vamos dar força para
as outras pessoas, afinal de contas, somos tão fortes!
Quem aguenta tanta pressão? Os amigos
estão ocupados demais, desmarcando com a gente, para cumprir outros
compromissos. Vamos compreender. Ninguém tem tempo para ninguém. [Mas o que parecia ser apenas uma
confraternizaçãozinha de fim de semana talvez salvaria uma vida! Ah, que
exagero!]
O sistema conseguiu automatizar
até as amizades. Criaram um novo dialeto cibernético. Criaram uma nova praça de
encontro. No chat matamos saudades e relembramos eras mais felizes. Nos
engoliram.
Aí o comediante mais incrível do
mundo se mata.
Todos se chocaram com a notícia. Ou
muitos, não todos.
Alguém havia reparado em como
seus olhos eram tristes?
Às vezes esperam tanta força e
tanta alegria da gente, como se a gente fosse uma fonte inesgotável de
fortalecer e fazer os outros rir, sem direito de chorar, tampouco de se
entristecer. Um cara engraçado perde o direito de se sentir triste, ele é uma
máquina de fazer os outros sorrir e ponto final. Tá triste? Chama o fulano, ele
te anima em dois tempos! Tá caidinho? Liga pra beltrana, ela é uma rocha!
A garota linda, cheia de seguidores
do Facebook se cortava, em seu quarto escuro. Quem poderia desconfiar disso?
O cara bonitão às vezes sumia. Dizia
que estava estudando, mas eram dias sem fim, que sequer conseguia se levantar
da cama.
A depressão mata. Alguém já
percebeu isso?
E lamento informar: ainda vai
matar muito mais. Aí quem sabe, nesse dia, você faça uma homenagem emocionada
ao suicida em suas redes sociais. Quem sabe poste uma foto, até monte um clipe
no Youtube e relembre, relembre, relembre...
Não vai mudar nada, mas ainda serve
como um bom desencargo de consciência.
Vida que segue _até ser interrompida.