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"Da onde vem o tiro?" |
Há tempos que não saímos à noite.
Se saímos, estamos tensos. O medo da violência já é respirável, está
pulverizado à nossa volta.
Celular é um chamariz. Entretidas
nos chats da vida, muitas pessoas se expõem ao risco de um assalto sem se dar
conta.
Andar com joias, nem pensar.
Aliás, nada que se pareça com uma pode ser exposto.
Os assassinatos ao vivo já não
nos chocam tanto. Estão nos cauterizando, dia-a-dia aumentando as doses da
violência e todas as suas variações cavalares.
Nossas casas já estão acomodadas
entre grades, fios de alta tensão, cacos de vidro e qualquer coisa que
dificulte a entrada de um estranho. Ainda assim, podem ser invadidas a qualquer
hora, seja noite, seja dia.
Aqui em Campinas, desde o último
dia 1º não se pode mais pagar as passagens no transporte público com dinheiro,
somente com o cartão eletrônico. O argumento da empresa é o de garantir mais
segurança aos cidadãos. Legítimo ou não, a triste verdade é que estamos nos
adequando à violência, mudando nossa rotina e nossos costumes, mudando nosso
percurso e horários à medida que os índices da brutalidade disparam.
Acredito que não haja inversão
mais desanimadora e perigosa que essa, que nos mantém tensos, enclausurados, à
mercê da violência e, parafraseando Herbert Vianna, sem saber o calibre do
perigo, da onde vem o tiro.
O sentimento de invasão é sentido
em uníssono pela população, que vai, cotidianamente se adequando à violência. É
um paradoxo viver numa sociedade que super valoriza o ter em detrimento do ser,
se na realidade, não se pode ter nada. Nem vida.