Há um tempão que
eu pensava que nunca mais escreveria pensando em você. Eu pensava que minha
inspiração jamais te buscaria outra vez. De fato, tive outras inspirações sim,
mas noite dessas, sem a minha própria permissão, sonhei com você. E caramba, me
lembro toda hora de tudo o que vivemos e principalmente, de tudo o que
poderíamos ter vivido, se eu não tivesse ficado doente.
O novo ano mal
começou e em sua primeira noite, adivinha: chorei por você. Pelas lembranças do
que tivemos, do que fomos e do que poderíamos ter sido.
E hoje, eu...
mulher magnética, hipnotizadora, de olhar enigmático que desvenda qualquer
enigma à minha volta, de olhos brilhantes que aprenderam a se purpurinar em
público _porque choram pra dentro_, de sorriso grande, acima de qualquer suspeita:
eu. Sou tudo isso, sou nada. Vazia por dentro, onde moram lágrimas, saudades e
vontades descabidas.
Nunca mais, desde
que você partiu, entreguei meu coração de novo. Não por medo porque medo eu não
sinto, mas por falta de vontade mesmo. Talvez eu esteja buscando você nos
outros, talvez eu esteja me punindo por não ter podido te fazer feliz, não sei.
A verdade é que a beleza não é o bastante, a oratória, a eloquência não me
trazem dias felizes. Ao contrário, atraem cobiças, invejas, maledicências
cruéis. Mas a dor que já me abraçou foi tão mais cruel, que para isso eu não
ligo. Acho graça, sinto pena de quem me quer, bem ou mal. Porque eu aprendi a
me fazer superior, a olhar por cima ou como quem não está nem aí. E no fundo,
realmente não estou. Eu só queria ter uma nova chance com você, mas sei que
isso não vou ter nunca mais. Então eu vou levando, fingindo muito bem que sou
muito bem resolvida, mergulhando em ironias, debochando da vida, bebendo pra te
esquecer, escrevendo pra te lembrar, sobrevivendo por você, mas só aqui, onde
ninguém pode ver.