Toda dor dói.
Nascemos aos prantos,
untados no desconforto de quem
sai do aconchego morno para o frio mundo.
Nos arrancam de dentro.
Nos cortam.
Nos molham.
Nos secam.
Nos deduzem, mas não nos
compreendem.
Nos atiram lá dentro.
Nos retalham em cobranças.
Nos afogam em comparações.
Nos dissecam em preconceitos.
Sempre nos deduzindo, jamais nos
compreendendo.
Dói o movimento dos cristais
formados no interior dos rins.
Dói a sucessão de contrações para
parir.
Dói o corte na carne, a pedra
enterrada na derme.
Dói nascer.
Dói crescer.
Dói viver rejeitando o modelo
ideal.
Dói viver a rejeição do que se diz natural.
Dói a dor que não tem rosto, é sem
nome.
Dói não saber.
Dói saber demais.
Dói o mosaico de saudades
inconscientes da segurança do útero de onde saí.
Dói a calmaria nauseante de quem
sofre sem saber que sofre.
Dói ter que se explicar a quem
nunca vai entender.
Dói tentar caber e ser maior.
Dói ter coração onde é normal ter
um código de barras.
Sim, toda dor dói.
Seguimos doendo.
Sempre deduzidos, nunca
compreendidos.
Puro dolorimento.