Avidando vou vivendo...
Avidar: verbo que não mata, mas
esmaece a vida
Sua primeira letra é uma porta
fechada anunciando o não,
como o amoral, o atípico, o
anormal
Avidar quase se encaixa no
avivar, mas o V da vida o ignora
É a contra-mão do sentido de
viver, é o quase morrer
É o existir _meramente existir_
na mediocridade do quase viver
Verbo que não se conjuga com
vontade, mas escorrega ladeira abaixo
Avidando vou vivendo... Mas oras!
Avidando não se vive!
Sou avida: um acento me salvaria,
atiraria minha não-vida nos braços da avidez
Ou um breve espaço me
transformaria, e eu seria o artigo definido da vida
Mas não há acento, não há espaço,
nada que me salve ou me transforme
Então não me sento, não danço,
não pronuncio, não descanso
E por aí sigo avidando, sem
flutuar e sem tocar o fundo
Avidando vou vivendo...
No avesso da vida, na lentidão da
contra-mão
Contando as horas num
conta-gotas, numa ampulheta vazia
Criando verbos sem vida, verbos
sem tradução
Conjugações de mim mesma, sem
segunda ou terceira pessoa,
verbos que definem solidão.