Antes teve o leite, o mel, a ilusão,
o erro certo
Ansiedade, resultado, sonhos, sangue,
células, multiplicação
Nome, rosto, medo, plenitude, estrias,
dores, a luz
Olhar de admiração, orgulho,
dependência, emoção
Deixa o desprezo para depois
Antes vieram as palavrinhas,
papinhas, lençóis, canções
Valores, cuidados, colos, remedinhos,
beijinhos
Cumplicidade, parceria, amizade
eterna, sacrifícios
Sensação de invencibilidade, união, noites
perdidas
Deixa a estranheza para depois
Então explodiram os hormônios: novos
amores, rebeldia,
outras certezas, tantas manias, desprezo,
estranheza, volume nas alturas, insatisfação
Novidades, amizades indeléveis,
risadas infinitas, sempre a ingratidão
Inacreditável. Teus olhos eram
flechas inflamadas a cravar em mim
aquele olhar indolente, que silenciosamente
me traía
Tudo ficou para depois do amadurecer,
mas não pude esperar
Foi inevitável morrer, morri com teu
olhar
Anelo que, ao menos minhas
lembranças, não sejam por ti esquecidas
E se fores chorar agora, filha, agora
já não precisa
Deixa a culpa para depois.