As ilhas eram nossas
Os campos
de girassóis eram livres
Aves raras flertavam com o céu,
golfinhos dançavam como queriam
O mundo respirava sem aparelhos
e seus pés tocavam o chão
Quanto tempo eu dormi?
Quem mentiu antes do amanhecer?
Quem se fez primeiro dono?
Acordei em um pesadelo
Há cercas, muros, rótulos e
patentes
Todos somos ilhas particulares
Os girassóis foram encerrados
em estufas
e custam mais que nossas almas
As aves raras suspiram pelo céu
através das grades
Os golfinhos foram dopados
e
dançam sincronias suicidas
O ar é solidão palpável e os
corações,
pedras baratas que queimam nas esquinas
Quantos donos tem o mundo?
A
quem pertenço desde a noite do fim?
Quantos mundos tem o dono?
Quem
decidiu falar por mim?
Negociam meus presentes
Financiam as guerras
Erguem muros, explodem pontes
Brindam à meia-noite com sangue
frio o suor ardente
Amanhecem mais ricos os donos
do mundo _ mendigos de si
E não deixam sequer um girassol
sobre o nosso caixão
porque girassóis valem mais que
nossas almas.