O mundo está tão
calmo, parece sorrir com a tua chegada. Ilusão.
As águas de março
escorrem pelas janelas
enquanto abres
teus olhos para a vida que te deram
O dia está
quente,
uma manhã de outono
que arde e chove, és mesmo contradição
Deus hoje te
amaldiçoa com amor animal:
hás de andar um
tanto sozinha, serás poeta
Isso não te trará
nenhum mal,
sorrirás tão
forte que o inverno te temerá
Serás ave andando
pelo chão,
podendo ir ao céu
sempre que ele lhe convidar _e convidará!
Vejo em teus
grandes olhos que és fera,
vais chorar
somente quando for madrugada
Até as folhas
secas do outono te adorarão,
elas serão teu
código com Deus
Serás o melhor e
o pior exemplo
Mesmo na
primavera, não te abrirás
Serás a
partitura, mas permanecerás muda,
pois nunca lhe
compreenderão
Serás o que presta
e também o que não presta
O tudo, o nada.
Jamais o que resta
Terás cada dia uma forma:
hoje cigarrro,
amanhã cinzeiro. Cama, travesseiro.
Taça, vinho. Águia,
ninho. Isca, anzol. Breu, farol.
Quadro, parede.
Fome, sede. Nudez, timidez. Delírio, sensatez.
Nenhum canto
desse mundo lhe será estranho,
caberás em todos,
menos em si mesma.
Então sorria, e
finja, e sinta e seja
E goze, e plante, e adore, e cante
Mas muito mais: escreva.
Proteja teu amor
insano, queira ou não queira,
pois o mundo é
injusto, logo saberás
Não te iludas com
o que vês,
lance teus
grandes olhos sobre o que ninguém alcança
Dance na chuva
que ora cai,
violentando o
mundo com a tua presença
Oriente-se pelo Sol, feito um girassol
Ofereças a paz de teus olhos e esconda o puro caos que tens no coração
E assim serão
todos os teus dias por aqui
Irradiando força
e luz àqueles que se alimentarão dos teus raios
Morrendo sozinha sob as estrelas ao som do silêncio.