Parir-te
Colocar-te para fora de mim
Seria um alívio não ter tua vida sugando a minha
Foi numa noite de verão que tornei-me uma mendiga
Recebi esmolas de tuas mãos,
carinhos contados que sobravam nos teus bolsos
Becos escuros
Multidões de desconhecidos
Labirintos
espelhados
Dos céus apenas o silêncio
Vivo no inverno perpétuo
Agarrada ainda aos trocados que recebi naquela noite de
verão
Morrendo todo dia sem saber por onde andas
Sinto inveja dos olhos de Deus, que podem ver-te dormindo
Desfiguração
Verão dos infernos
Exaustão
Maldito óbolo, toque de formosura, compaixão dos meus
olhos tristes
Ah, quem me dera parir-te, colocar-te para fora de mim!
Enlouquecer de culpa
Mergulhar na insanidade por deixar-te livre
e livre prosseguir para o inferno sem lembranças tuas.