Minhas raízes flutuam
Se tentar me prender, eu sumo
Minha vida não tem porta:
a arranquei com os próprios dentes
Nela, fica quem quer
_ou quem aguenta o peso da minha alma de pluma
Andar de puritana
Alma de cigana
Essência selvagem
Não ando em bando, nem em par
Nasci longe, moro aqui, tenho a cabeça lá
Minhas raízes flutuam
Se tentar me domar, eu fujo
Bola de ferro, camisa de força, mordaça
Sonífero, chantagem, poção mágica
Não há o que possa me prender
É a porta aberta que me faz querer ficar
Não espere que eu me explique
Não me exija sempre meiga
Vez ou outra minha fera interior aflora
Me retiro _sem porquê_ à minha caverna silenciosa
Então eu grito, me arranho inteira
Reflito, me refaço, renasço
Não preciso sorrir
Tampouco exibir gestos de amor
E por falar em amor,
sim, eu o posso sentir
No entanto, não há quem o aceite
Pois o que esperam do amor eu nunca serei capaz de dar:
Amor a portas fechadas, sempre desconfiado
Amor sem a luz da Lua entrando pelas janelas, sempre sufocado
Amor feito pacto de morte,
levado ao precipício a cada silêncio incompreendido
Amor tortura
Amor cobrança
Amor boleto
Amor que anula
Amor prisão
Desconheço
Estranho
Rejeito
Não sirvo
Porque meu amor é preso à liberdade
e, ser livre nesse mundo, toda boca diz que quer,
mas nenhum coração suporta ser.