Se é para falar de imprevisto,
de bagunça, de caos, eu falo
A vida aperta sem dó,
não pergunta onde é o limite
No fundo ela sabe
porque surpreendentemente a gente aguenta
Já não fujo do caos: se me isolo,
é para me ver sem máscara, essencial,
fora do alcance do veneno social
Se eu bebo, é para me esvaziar
de todo entulho do passado,
que já não cabe no meu coração, em obra
Se eu choro, [já] não é por fraqueza,
é minha maneira de chegar ao zero
lavando a minha alma exausta
de projetos vencidos
Sim,
surpreendentemente eu tenho aguentado
Disfarçando
Sorrindo
Cantarolando
Resistindo
O que vai permanecer sem fim até o fim
nunca é dado de bandeja
Custa paredes quebradas,
explosões, faxinas e recomeços
Dói
mas já não preciso mais de anestesia
Já nem tranco a porta todo dia
e surpreendentemente
eu tenho me preparado.