Independente da Primavera

"Por causa de você"

Setembro é o mês mais triste. Foi nele que florescemos limitados, sentindo amor infinito. Foram tuas mãos nas grades e teus olhos tristes que me capturaram para todas as estações que viriam [e virão], e em qualquer liberdade que eu esteja, eu só queria estar ali de volta, naquelas grades melancólicas e inspiradoras.

A mediocridade daqueles meus dias era de uma imponência real, como da valsa de nosso enlace que só acontece quando me desligo do que é palpável. Meus olhos perolavam os sonhos que a tua respiração nutria. Eu só queria ser tua sombra para estar perto da tua presença. Tua grandeza de ser me preenchia e eu amava a tua vida mesmo quando teus olhos me acusavam de crimes que eu jamais cometi ou cometeria. 

Mas a realidade era pesada, os cálculos davam resultados absurdos. Conseguimos acreditar neles sem prova real e nos desencontramos dentro da perfeição que éramos. Eu não entendi que a matemática tem suas entrelinhas e ouvi, inocente, os palpites do acaso [contudo, isso custou-me a vida]. 

Hoje eu não choro por nada, não choro por ninguém, apenas pela lembrança das tuas mãos nas grades frias naquela noite gelada de setembro em que eu era apenas uma iniciante na vida. E, apesar da experiência na dor, eu não imaginei que doeria tanto ver teu cárcere cruel, de sorrisos sociais, de ternos bem recortados e de felicidade ensaiada para fotografias. Eu, daqui, em silêncio vou provando a minha verdade, sabes bem que eu nunca quis fiança ou patrocínio, que 'vida boa', para mim, seria conviver contigo. 

Naquela noite gelada de setembro eu quis o incomprável: o brilho dos teus olhos, de valor incalculável, essa bênção que tenho posse só de chegar perto, independente da minha miséria. Em todos os setembros, desde aquele, eu quis derreter o frio de tuas mãos habilidosas, que percorrem as sete cordas como ninguém, eu quis o teu cheiro, que conheci depois, e cada um dos teus sonhos mais simples _de arroz doce à música na cidade do interior. 

Logo eu, que sempre quis o algo mais da vida, desejei mais que tudo ser o reflexo de teu violão, mas ser uma corda nele reposta, bastaria, somente para sentir o calor de tuas mãos, teu coração vibrando num tom bonito e a tua companhia garantida em qualquer mês de um ano vivido, independente da primavera.


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