Imperfeita


Se nos dias frios eu parasse de ir à praia,
será que o mar se sentiria traído?
Diga-me: e teus olhos, famintos por beleza padrão,
o quanto se sentiriam desapontados
quando eu lhes mostrasse as marcas indeléveis
que o Sol da vida em mim imprimiu?
Para teus olhos exigentes,
perfeito é não ter marcas ou ser marcante?
Guardo signos que falam do ponto exato
onde a vida foi gerada
e cada linha dessa história está exposta,
pode ser lida a todo instante
Isso me exclui do time da perfeição
E por falar em perfeição,
meus lábios raramente estão vermelhos, 
entretanto, meu nariz, constantemente,
feito palhaço, que entrega o coração,
mas te vê se distraindo nas curvas efêmeras de alguém que,
orgulhosa exibe fendas e costas
enquanto reproduz entre aspas poemas alheios
e não gera sequer uma palavra nova
Te interessa mesmo saber onde está,
que idade tem?
É mesmo necessário o convite para teu mar?
Ah, beleza extraordinária:
única obrigação da juventude!
Pois saiba que nem sempre
eu colheria de teus lábios
o suspiro reticente invocando Deus
ao me ver preparada para a entrega de minha carne
Nem sempre eu teria o olhar matador
que te faria morrer de amor
e te inspiraria poeminhas curtos,
cheios de vontades quentes,
como as marquinhas perfeitas de Sol,
que mais parecem adesivos
Nem sempre eu seria adorável
no frescor que um dia quente
de pouca roupa e muita pele incita
Não
Mas teus olhos, ávidos por perfeição,
a todo tempo evidenciam tua predileção
por uma plenitude impossível para mim
Se por dentro sou transbordante, 
por fora, estou a suplicar
Estou perdida e já não sei se te basto
Pois de perfeita eu só tenho a intenção
de ser teu refrigério nos dias quentes
e aconchego nos dias frios que,
por sinal, estão chegando
E se deles eu abrir mão
e à praia eu não mais for,
teu mar vai se sentir aliviado
ou nem cogita não ser o meu amor?

Comentários