O mais caro de nossas vidas


Hoje escrevo para teu coração 
A cada gota de vinho, uma palavra de desejo,
um pensamento que atraia a tua alma para dentro da minha
Preciso sentir tua respiração, teu corpo inteiro,
espírito ardente, clássico e vulgar dentro do mesmo olhar
Somos dois anjos insolentes, torturados pelo desdém,
desanimados por termos guardado sentimentos lindos, mas rejeitados,
até que apodrecessem no lugar mais sagrado de nosso coração,
santuário onde foi levado alguém que jamais mereceu estar ali
[Solidão]
Nosso divisor de águas foi o lixo,
ponto de encontro imprevisto,
lugar de descarte e, quem diria, de renovação
Onde esbarrei meus braços cansados nos teus,
enquanto estávamos tentando nos livrar
do que nos matava em franca respiração,
desovando cânceres e amores abortados, decompostos,
ainda chorando imersos no ódio, na mágoa,
no misto de culpa, fracasso e frustração
Foi assim que nos encontramos,
corações aos farrapos, desnudos,
cuidando sozinhos das próprias lacerações
Mas que ainda eram o recôndito do vinho mais caro de toda vida
E ele foi nosso bálsamo,
que derramamos sem piedade sobre o outro
Que foi selando nossas arestas mais profundas
em intimidades mais velozes que a luz,
em sintonia mais afinada que orquestra antiga,
forjada na distância que afinou a cumplicidade
entre dois anjos mais transgressores que transgredidos
Na taça do amor eu não me basto,
falta teu corpo no meu para o transbordamento dos sentidos
Hoje te espero para falar com menos dor daqueles dias
e com mais ardor de nossas estrelas
que faíscam entre sorrisos e borboletas,
entre girassóis que explodem sobre nossas camas desfeitas
enquanto mergulhamos nossos corpos
e, extasiados, servimos um ao outro
o vinho mais caro de nossas vidas.

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