"Quem conhece a tempestade enjoa na calmaria"


As tempestades vêm sobre nossa vida para nos mostrar que melhor seria se fôssemos precavidos, se estivéssemos resguardados com guarda-chuvas ou sob marquises. No entanto, elas também nos mostram que, se não houver tempo ou condição de preparação, elas não matam: elas nos molham, nos encharcam, mas não nos matam; podem, no máximo, nos resfriar.

E só quem já foi acometido pelas tempestades não se desespera com a chuva sempre que ela se anuncia, só quem já foi por ela surpreendido é que sai sob suas águas sem dar explicações_ e se isso não é um prazer agora, pelo menos, já não apavora.

Quem conhece as tempestades sabe a falta que faz uma telha no telhado, sabe que um vento leve arrepia, até congela, mas sabe também que a calmaria é tediosa.

Gente que conhece as tempestades dá mais valor à coberta de retalhos, à caneca quente de chocolate, ao par de pés entrelaçados durante a madrugada. Todo fio de calor vale a vida.

Gente que conhece as tempestades é fascinante porque não se intimida com o céu cor de chumbo; porque apesar de amar o Sol, sabe que não mata molhar os pés nas poças enlameadas de vez em quando: sabe que isso faz parte do caminho.

E nem sempre haverá alguém para se molhar com ela, aliás, quase nunca haverá. O que mais se vê são pessoas correndo, fugindo das tempestades, se protegendo delas como podem.

Contudo, bendito é aquele que sente a chuva lhe caindo sobre a vida e tem, ao seu lado, alguém encharcando-se na mesma proporção, e feliz por isso. As tempestades só se revelam como bênçãos àqueles que as enfrentam. Apenas estes é que sabem dançar nelas e merecem se encontrar em meio às águas turbulentas.