Há manhãs


Acordo cedo. Acordo tarde.
Às vezes, antes do despertador.
Às vezes, nem de pé, a tomar café.

Abrir os olhos e me levantar para mais um dia - ou menos um dia: eis a bênção mais despercebida da vida.

Há dias em que acordar é um fardo.
Há dias em que acordar eu nem sei o que é, simplesmente vou.

Há manhãs em que sinto o galopar do despertador como um grande fórceps a me arrancar de um sonho quente.

Há meios-dias em que acordo sozinha, com o silêncio da alta hora a gritar nos ouvidos da minha consciência, pesada. E, mesmo podendo ficar, sem compromisso com ponteiros, sonhos e posição solar, a cama me expulsa e meu corpo inteiro dói.

O dia - dizem - começou faz horas e eu o sinto distante; sem o tocar, existo.

Acordar é involuntário enquanto se vive, só dorme para sempre quem já morreu.

Eu não quero acordar.

Eu quero renascer p
ara abrir meus olhos todos os dias com a boa ansiedade das pequenas conquistas diárias. Pequenezas gigantes, que justificam o despertar de uma vida inteira.

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