A cor da esperança


Quarta-feira. "Meio da semana", é o que sempre penso quando o dia é quarta-feira. Abri a janela com cuidado para não ficar cega, o Sol já estava animadíssimo para iluminar esse dia. Saí para dar uma volta. Como sempre, olhando tanto para o caminho quanto para o céu, onde não se via uma única nuvem. Azul. Plenamente azul. E frio. Estamos no inverno. O Sol figura, não aquece, mas alegra o dia, isso é indiscutível.

Andei algumas quadras e fui ver o mar. Tentei ir até à areia, mas ventava muito. Fiquei de longe, numa esquina estrategicamente procurada em dias de ventos fortes. Ali o Sol até aqueceu. Apesar de ter uma avenida entre mim e o mar, não tirei dele o meu olhar. São tão lindos os reflexos solares sobre a água! De longe, o mar parece tão calmo, como se fosse apenas aquele ir e vir sem fim, como se não houvesse um mundo sob ele, um mundo de beleza e de horrores, de tesouros afundados, de predadores, de gerações que perpetuam em vidas que recomeçam. 

Olhar para o mar é terapêutico, a alma sempre agradece. Ele invoca as inspirações mais adormecidas, lembranças, histórias ouvidas, histórias que hão de nascer. No mar deixo sempre meu olhar mais triste, mais apaixonado e mais inspirador. E ele me devolve sua grandeza em sentimentos, vontades e motivos que nunca entendo bem, mas agradeço mesmo assim.

Fiz o caminho de volta reparando que as árvores estão secas. Algumas têm flores, mas não tem folhas. "Como que a natureza consegue isso?", me pergunto sempre. É bonito. É uma expressão triste e resistente da vida que prossegue independente das ventanias ou da falta do verde. A esperança, talvez, não tenha a cor que a gente pensa.

Aqui, já em casa, espalhei vários rascunhos de textos já publicados, de ideias que prendi no papel para soltá-las posteriormente. No computador está pronta a próxima aula do curso que decidi fazer. Sinto que preciso ser lapidada, até li dois livros nesses últimos dias! Reli alguns rabiscos, talvez haja algum potencial aqui dentro. Quero encontrar a confiança, o sentido eu já sei, mas preciso repassar todos os dias. Quero encontrar a mim mesma e sinto que estou muito perto. Eu nunca procurei tanto por mim e nunca quis tanto tocar em sonhos como quero agora.

Mais uma vez eu olho pela janela o céu, azulíssimo, que me arrepia nesse dia tão comum, bem no "meio da semana". Mais uma vez, eu não compreendo, mas agradeço. A esperança, talvez, não tenha mesmo a cor que a gente pensa. 

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