Dobrar-me


Sinto os grãos da ampulheta
caindo silenciosamente 
É por isso que me distraio com formigas,
com as mudanças de tons do céu,
com as janelas mais altas do caminho
A multidão corre, alucinada,
em conta-gotas de atenção e sensibilidade 
Eu me derramo inteira
a cada vez que as menores coisas do dia
explodem bem na minha frente
e ninguém vê 
Na minha humanidade
não cabem os excessos
que me deram para cuidar
Nasci para o amor infinito
Diluo sua eternidade
nos meus dias contados
Cada amanhecer é um dobrar-me inteira
para caber nas dimensões da vida
Acontece que, reduzir a alma, dói.


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