Sem filtro na veia

 

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Hoje o tempo fechou
Vai chover vermelho no meu coração
Essa agonia não está cabendo em mim
Como pesa a sensibilidade!
Queria ser fútil, viver na média
Mediocridade anônima, que maravilha!
Queria não compreender entrelinhas
e nem precisar delas
Queria não suportar Pessoa, Neruda, Vinicius
Queria passar despercebida
Entretanto
sempre me convidam para a roda,
para a mesa, para a rua,
mas minha alma estranha
e sempre prefere a caneta e o papel,
a cama e o travesseiro,
a música e o silêncio
Minha normalidade é atípica,
soa antipático, esquisito
Tenho o coração na pele
e a minha balança é outra
Por que a minha capacidade de amar
me adoece a alma?
Por que não sou comum?
Por que não sou mais um?
Sinto a alma cansada:
alargou-se em demasia
e já não me resta a chance de ser menos
Estou condenada a ser grande
Vou sofrer por ter a alma inchada,
inchada de fé no amor
inchada de passionalidade.
Sou uma autêntica fraude
Demonstro autoconfiança
Olho nos olhos e faço constranger
Tenho o tom da serenidade desejada
Mas
como todo cartão-postal,
eu tenho um verso
Um verso que não se revela,
que é meu e de poucos
Apenas as almas poéticas
compreendem os tormentos
que eu escondo em meu verso
Nessa tarde
pedi a Deus que me levasse daqui
Não, eu não tenho coragem de ir sozinha,
no entanto,
eu não correria dela caso ela viesse
E a minha agonia está virando raiva,
tenho raiva por não ser como os outros
Eu queria ser simplória,
sem mistério algum
Ter sonhos frívolos
Ser limitada e, por isso,
chamar o amor de ilusão
Queria ter amores
com a duração das flores
Queria ter desejos sociais,
ter conduta padrão
e nem saber do algo mais da vida
Mas não, sou assim,
de alma inflamada,
de coração quente,
de espírito apaixonado
e, talvez, ingênua
por acreditar nas mentiras
que os poetas juraram ter vivido
Só me falta ser verde
e ter a cabeça grande.

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