Por muitas vezes já fui perguntada se eu preferia ser chamada de poeta ou de poetisa. Sempre respondi que eu preferia ser chamada de poetisa. Achava a palavra bonita, muito delicada. E ainda acho. Mas hoje em dia, gosto mais de poeta.
Sim. Poeta.
"Poeta" é uma palavra terminada em A que abarca todos, sejam homens ou mulheres. Coisa rara. "Poeta" é uma das poucas palavras que fazem isso. Geralmente, nós mulheres, temos que recorrer à "forma feminina de". "Poeta" não, é a forma masculina floreada com o A, do universo feminino.
Compreendi que "poetisa" é como um esconderijo, um lugar preparado para quem não se pode anunciar; uma fuga, espaço onde pode-se dar vida a um fio de identidade. "Poetisa" é o feminino do feminino. É uma redundância parva, subterfúgio desnecessário.
E este não é um manifesto feminista, é somente uma comprovação de que o equilíbrio - masculino - é imprescindível na vida - feminina. São as palavras e as frases que formam o texto, que traduzem as ideias ou os contextos. Não vale a pena discutir importâncias de gêneros imprescindíveis.
Ser mulher poetisa é uma hipérbole poética e eu dispenso. Gosto mais da literalidade abstrata da poesia. Ser homem dentro de uma palavra feminina é uma permissão divina, uma licença concedida pela poesia, que transcende a virilidade.
E, convenhamos?
Ser "poeto" não seria tão lindo.