Eu cansei, ele cansou, nós cansamos. E confessa: você também está exausto daquilo lá.
Tive minha primeira conta no Facebook em 2009. A atual é de 2016. E, neste ínterim, criei minha conta no Instagram. O ano era 2014. Eu não sabia bem como utilizá-lo, mas gostava daquele clima de fotos bonitas, de frases impactantes. Assim, timidamente, aprendendo sobre hashtags, comecei a publicar minhas frases por lá.
Lembro-me que eu não sabia nada de edição de imagens. Se o Canva já existia, eu nem sonhava em me virar por lá um dia; as "artes" eram bem toscas, mas expressavam bem tudo o que eu pensava. Às vezes, encontrava uma imagem aleatória bonita - ou mesmo uma foto autoral, nada "artística" - e aquilo despertava minha inspiração para escrever. E eu escrevia. Sem pensar em quem poderia ler, gostar ou rejeitar. Nos idos de 2014, 2015 a gente não falava em "cancelamento", apenas publicava, pelo prazer de publicar, como uma expressão.
Eu escrevia com sensação de liberdade, como puro ato de compartilhar um pensamento, um sentimento. Não havia palavras punitivas, tampouco o tal do "shadowban". O alcance era algo fácil, espontâneo e, muitas vezes, surpreendente. Fiz amizades àquela época que perduram até hoje. Já recebi depoimentos lindos! Minhas palavras escritas, com o propósito de desabafar a alma, já revigoraram pessoas que estavam desistindo da própria vida, já tiraram pessoas de relacionamentos envenenados, já consolaram corações tristes com saudade de alguém. Ter centenas de curtidas era uma consequência natural, não era o objetivo, a princípio. Era como quem começa uma reeducação alimentar e uma rotina de atividades físicas e saudáveis para melhorar a saúde e, consequentemente, começa a ver mudanças positivas no próprio corpo. Assim era escrever nas redes sociais há dez anos.
À medida em que o tempo avançou, as marcas comerciais começaram a ver naquele espaço uma oportunidade de conquistar clientes, e eu nem preciso explicar no que se transformaram as redes. Falando exclusivamente de mim, comecei a me perceber um tanto tolhida, como quem "pisa em ovos", escolhendo palavras e evitando alguns termos ou expressões. Com o tempo, comecei a me sentir ansiosa quando publicava alguma frase, texto ou poesia. Um dia eu me dei conta do quanto eu estava obcecada por curtidas - sim, confesso. E como nunca paguei para estar ali, naturalmente, elas desapareceram. O que antes era o chamado "orgânico" tornou-se algorítmico.
Dancinhas, caras e bocas, bicos de pato, influência sem relevância, tudo isso começou a ter muita audiência. E mesmo assim, eu continuei a insistir. A ansiedade tornou-se estratosférica. Experimentei sair do Instagram umas dez vezes ou mais. E voltava ainda mais ansiosa e decepcionada. Mudei meu olhar e comecei a perceber que, cada pessoa ali está desesperada por like, se submetendo a dancinhas, teatrinhos e encenações nada espontâneas, apenas para engajar - que verbo prostituído, coitado!
Da última vez em que me senti mais uma ali - nunca com dancinhas e afins, mas insistindo no meu caminho com uma edição de imagem bem melhor que a do começo (um salve ao Canva e ao Inshot!!!) - eu finalmente compreendi que aquela atmosfera não era mais para mim. Ou melhor: eu já não cabia mais nela. Desacelerei até parar de publicar. Olhei para dentro de mim e admiti: eu já não acredito mais nisso aqui. É preciso calma e autoconhecimento para admitir que ir no "flow da galera" já não faz sentido.
Transformar minhas redes em locais de visitações esporádicas devolveu paz aos meus dias. A vida real continua, os planos ganharam novos contornos e as entrelinhas estão cada dia mais fortes no meu cotidiano. Isso me faz mais presente em minha própria vida, a verdadeira, a que ninguém vê mas que, mesmo ofegante, correndo atrás de likes e engajamentos, nunca deixou de respirar.